domingo, 8 de fevereiro de 2009

GENÉTICA

Estava na sala de espera do dentista, lendo uma revista de divulgação científica, quando me deparei com uma entrevista de um famoso geneticista dizendo, entre outras coisas, que o DNA do ser humano é setenta por cento idêntico ao de uma abóbora. Fiquei tão chocado que nem precisei de anestesia para o tratamento de canal. Com o rosto inchado, fui para casa mastigar o assunto, (não dava para morder nada mais sólido), preocupado.
Não dormi naquela noite. De manhã bem cedo corri até o Claus Pich, um trator amigo meu, faixa-preta em genética, e exigi uma retratação pelo desaforo do colega dele. O Claus não só não se retratou como confirmou a notícia e, na delicadeza que lhe é peculiar, me jogou porta afora, que aquela não era hora de acordar gente decente.
Meu Deus! Por que aquele cientista desgraçado nos comparou com uma abóbora? Por que ele não nos comparou com um macaco, um vírus ou, sei lá, um vendedor de seguros? Uma abóbora para mim é um ser amorfo, sem idéias, que abriu mão de virar árvore para ficar se bronzeando no chão, sem se preocupar com as formigas ou roedores, e paga o preço até hoje. É como o gordo que sempre fica para trás nos filmes de terror e é pego por não conseguir correr tão rápido quanto os outros (você nunca verá uma abóbora conseguir fugir de qualquer inimigo que seja). Uma criatura gulosa que preferiu não ter tronco para só criar barriga e que só não se extinguiu por que nós gostamos de cozinhá-la. Já pensou ter de depender de outra raça por que gostam de cozinhar você? E vem um cara desses e diz que eu tenho que chamar uma coisa dessas de prima!
Depois de engessar as costelas (o Claus não costuma abrir a porta antes de arremessar alguém por ela e geralmente erra o primeiro arremesso), fui pesquisar o assunto e descobri que não só partes de seqüências de genes são idênticas em todos os seres, como também a essência material, o cimento de que todos são feitos é o mesmo. Teoricamente, se pegarmos a célula de qualquer ser e a modificarmos um pouquinho, teremos outro ser diferente, até mesmo um humano, talvez até um corretor de seguros!
A Genética veio para dar o tiro de misericórdia no peito do “HOMEM, O ser-mais-evoluído-da-natureza”, que havia levado seu mais duro golpe do carrancudo Darwin, com aquela história do macaquinho nosso avô. Se o Darwin ficou com aquela cara por descobrir nosso parentesco com os primatas, imagina como ficaria se soubesse que somos quase cultiváveis em canteiros!
Debati com alguns amigos sobre o assunto e o Fernando me sugeriu uma teoria interessante: que a transformação já existe e que tem gente solta na rua que não descende de outro ser humano, mas de certos tipos de legumes ou animais exóticos. Por que só o fato de existir Engenharia Genética justificaria a existência de alguns seres, como os fabricantes de espanadores ou os estudantes de psicologia. Já pensou descobrir que o seu chefe foi produzido a partir de uma célula do nariz de uma anta? Ou que a mulher do seu vizinho é um quiabo que virou um pé de couve e, mesmo assim, ele casou com aquilo?
A repercussão na nossa vida seria terrível, com problemas psicológicos irreversíveis do tipo ”Complexo de Édipo – Categoria: batata” - como impedir o cara de comer o equivalente à sua mãe no almoço?
Definitivamente, preferiria viver no tempo em que a terra era chata e centro do universo, tratamento médico era na base da sangria e vomitório, que só não matava por pura sorte, e se alguém dissesse “tua mãe é uma vaca”, estaria se referindo ao caráter e não à forma original da genitora.
Não sei para onde este mundo vai, mas acho que não quero ir para lá. Agora, toda vez que digo algo, caio numa gargalhada histérica. Quando me olhei ontem no espelho, estava com o olhar parado, vazio e com uma cor esverdeada na pele. Ou confundi o espelho com a foto de uma abóbora.

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